Por Thaís Pires Carneiro
A globalização e a rápida evolução tecnológica estão revolucionando nossa sociedade de maneiras inimagináveis. Desde a disseminação da Internet até à crescente conectividade global, testemunhamos mudanças profundas em diversas esferas da vida quotidiana.
Um setor que tem sido particularmente impactado por essas transformações é o mercado de conteúdo audiovisual. Com o surgimento de plataformas de streaming, a ascensão das redes sociais como canais de distribuição e a demanda por conteúdo personalizado, novas formas de se adequar às necessidades e exigências do público têm-se tornado imperativas.
Estamos todos digitais. Hoje em dia, passamos mais tempo usando media online do que media offline tradicional. Os espectadores agora têm acesso a uma infinidade de opções e possuem o poder de escolher o que assistir, quando e onde desejam. Por isso, é cada vez mais recorrente a demanda por conteúdos mais longos, que vão além dos tradicionais formatos curtos de publicidade. Os consumidores estão em busca de histórias envolventes, narrativas aprofundadas e experiências imersivas que os cativem e os mantenham engajados por mais tempo.
Além disso, as novas tecnologias disponíveis na indústria audiovisual, como a realidade virtual e a inteligência artificial, estão remodelando a produção de filmes publicitários. Embora tragam consigo oportunidades empolgantes, também impõem o desafio de se adaptar rapidamente a um ambiente em constante evolução. Mais do que nunca, a demanda por conteúdo cresceu exponencialmente, e todos os dias somos bombardeados por palavras dentro deste universo que ditam os moldes do futuro: autenticidade, engajamento, UGC, marketing de influência, publicidade nativa, cross-platform, cocriação, branded entertainment, branded content, branded storytelling, story doing, IA, RA, MR, VR, gamification, metaversos, entre outras dezenas de possibilidades que, só de ler, já nos geram ansiedade.
Observem os dados abaixo:
Segundo um estudo da Cisco, até 2022, mais de 82% do tráfego da Internet foi gerado por vídeos; de acordo com um relatório da Wyzowl, 87% das empresas agora usam vídeo comoestratégia de marketing; a Forbes destacou que, em 2023, a realidade aumentada se tornará um mercado de US$ 70 mil milhões, oferecendo oportunidades significativas para marcas e agências*.
A pressão para inovar é uma constante, e o mundo, não espera. O que se observa no momento é a necessidade real de uma mudança de mentalidade. Muitas marcas e agências ainda se apegam a modelos tradicionais de publicidade, que não se alinham com as novas formas de consumo de media. Integrar o branded content, branded storytelling e o branded entertainment requer uma transformação profunda na estratégia de marketing, uma vez que precisam calibrar a verba disponível para conteúdos mais longos em detrimento da comunicação B2C habitual.
Outro fator a ser destacado é a dificuldade em lidar com a velocidade e o volume de produção exigidos pelo cenário atual. Com a proliferação de canais de comunicação, é essencial atender à demanda por material de qualidade em prazos cada vez mais curtos. Também existe a dificuldade de se fazer a distribuição eficaz do conteúdo. Com a diversidade de plataformas e canais de comunicação disponíveis, é fundamental desenvolver uma estratégia de distribuição adequada para alcançar o público-alvo de maneira relevante e customizada. Compreender o comportamento do público em cada uma das plataformas e adaptar o conteúdo de acordo são elementos essenciais para atingir os objetivos da marca.
Neste contexto desafiador, partilho algumas tendências para o segmento. São elas:
Os filmes de longo formato possuem um potencial significativo na disseminação de conteúdo. Ao investir nesse tipo de produção, as marcas têm a oportunidade de criar narrativas envolventes e relevantes, proporcionando aos consumidores experiências autênticas que os conectem de forma única e profunda. Essas histórias podem refletir os valores, as paixões e as aspirações do público-alvo, tornando as marcas parte integrante do seu universo.
Uma das vantagens estratégicas dos filmes de longo formato (nomeadamente branded content, branded storytelling e branded entertainment) é a capacidade de fragmentação e reutilização do conteúdo. É possível adaptar trechos significativos para atender às necessidades dos meios tradicionais, como comerciais de TV, alcançando um público mais amplo e diversificado. Além disso, essa fragmentação também pode ser aplicada em outros canais de comunicação, como redes sociais, plataformas de streaming e vídeos on-demand. Ao adaptar o conteúdo principal em formatos mais curtos e adequados para cada plataforma, as marcas mantêm uma presença consistente e relevante, atingindo diferentes segmentos de público e maximizando o retorno do investimento em marketing.
Dessa forma, os filmes de longo formato tornam-se uma matriz criativa holística e poderosa para a estratégia de comunicação, permitindo que as marcas transformem desafios em oportunidades. Ao criar conteúdo audiovisual envolvente e adaptável, as marcas conseguem-se destacar em meio à velocidade da era digital, proporcionando experiências marcantes e construindo conexões duradouras com o público.
No cenário atual, as tecnologias disruptivas têm um papel fundamental na evolução do conteúdo. Desde a inteligência artificial (IA) até à realidade virtual (VR) e os metaversos, essas ferramentas têm o poder de ampliar e intensificar a forma como contamos histórias e interagimos com o público. A IA, por exemplo, possibilita a análise de grandes volumes de dados, permitindo entender melhor as preferências e os comportamentos do público-alvo. Com isso, podemos criar conteúdos mais relevantes e direcionados, entregando uma experiência personalizada que ressoa com cada indivíduo. Já a VR e os metaversos abrem portas para novas dimensões de envolvimento e imersão, levando as pessoas a vivenciarem histórias de uma maneira completamente nova.
Apostar nos parceiros certos. É importante destacar que a quebra do status quo e a integração bem-sucedida de filmes de longo formato requerem uma abordagem estratégica e criativa. É essencial o despertar da indústria para novas formas de trabalho, com dinâmicas mais colaborativas, investindo em talentos especializados, como produtores de conteúdo, guionistas e realizadores, que possam trazer uma perspetiva inovadora e original para a criação de conteúdo audiovisual. Além disso, a colaboração com influenciadores, criadores de media e parceiros de distribuição pode ampliar o alcance e a influência da marca.
A interação com especialistas da área acaba por imprimir inovação de forma mais controlada e “descansada”. O papel das agências e das marcas segue sendo fundamental para orientar o posicionamento e os objetivos de comunicação de modo a assegurar o ADN do negócio e os territórios para onde querem caminhar criativamente. A interação colaborativa com especialistas, neste caso, impulsiona uma curva de aprendizado rápida, o que contribui para a criação e a implementação de novas metodologias de trabalhos e excelentes resultados.
Para acompanhar essa transformação, é crucial investir em estratégias personalizadas. Isso envolve implementar uma área especializada de análise de dados (Data Strategy Departement), que fica responsável por monitorar e analisar informações relevantes. O uso de dados e as suas respetivas análises são fundamentais para compreender o comportamento do público, identificar tendências e ajustar as estratégias de conteúdo em tempo real, resultando em uma produção e distribuição mais eficazes.
Com o auxílio de tecnologias, as marcas conseguem entregar conteúdo relevante e direcionado de forma escalável. Estudos mostram que a personalização é considerada crucial para o sucesso da publicidade digital. Nesse cenário, testemunhamos uma mudança na forma como as pessoas se relacionam e consomem conteúdo, buscando experiências personalizadas que os envolvam emocionalmente. As marcas que compreendem essa dinâmica têm a oportunidade de estabelecer laços duradouros com o seu público, transmitindo os seus valores e estabelecendo uma relação de confiança. As redes sociais e a personalização dos algoritmos oferecem às marcas uma maneira direcionada de alcançar o seu público-alvo, enquanto as plataformas de streaming abrem espaço para o branded content e o branded entertainment.
Outra grande vantagem desta vertente é a de conseguir mensurar os indicadores e resultados. Através do monitoramento e análise de dados, é possível obter métricas precisas que permitem avaliar o desempenho das estratégias de conteúdo. Essa mensuração é essencial em um processo de aprimoramento contínuo, pois fornece insights valiosos para ajustes e otimizações. Dessa forma, as marcas podem identificar o que está funcionando e o que precisa ser aprimorado, garantindo uma constante evolução e maior eficácia em suas ações. A combinação entre personalização, monitoramento de dados e mensuração de resultados forma um círculo virtuoso que impulsiona o sucesso das estratégias de conexão com o público num mundo em constante transformação.
Ao refletir sobre o futuro que nos aguarda, é importante lembrar que o mundo antigo e o novo mundo têm os seus pontos fortes e as suas críticas mútuas. Enquanto o antigo lamenta a superficialidade do novo, este último reclama da lentidão do antigo. No entanto, nós, pioneiros desta era digital, enfrentamos o desafio de unir esses dois mundos aparentemente opostos.
A verdade incontestável é que a transformação digital está acontecendo agora, neste exato momento. Não se trata de abandonar nossas competências centrais tradicionais, mas sim de reinterpretá-las e revitalizá-las com uma nova abordagem. O futuro nos convoca a fundir o conhecimento adquirido ao longo dos tempos com as possibilidades infinitas que a tecnologia e a inovação nos oferecem.Com cada nova força que nos empurra para lugares inexplorados, somos convidados a abraçar o novo com entusiasmo e resiliência. É nesse encontro entre o antigo e o novo que encontramos um terreno fértil para a criação e a reinvenção. Não devemos temer as mudanças, mas sim abraçá-las como oportunidades de crescimento, aprendizagem e progresso.
*Referências:
